quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

Não tenho medo


Houve uma vez que minha avó Anita não queria que eu lesse Sidney Sheldon. Não me lembro qual livro era, mas o motivo era que eu, um adolescente, não deveria ficar lendo algumas cenas picantes que descrevia. Mas sendo eu um adolescente, o meu desejo de ler aquele livro só aumentou. Tivesse minha avó me dito que a literatura norte-americana de Sheldon era fácil, que nada acrescentava as nossas vidas, que cinco minutos depois do livro deixado na estante já não nos lembraríamos do romance, eu teria desistido de lê-lo.

Li. Contrariei a vontade da minha avó. Gostei. Talvez fosse isso que eu procurava na época: contrariar vontades, romances fáceis, traduções duvidosas e descrições picantes de cenas de sexo.

Tempos mais tarde voltei a lê-lo. Não gostei. Pareceu-me um Paulo Coelho às avessas. Sincero, mais objetivo, sem a pretensão de ser um "auto-ajuda". Essas eram as vantagens que o separava do best seller brasileiro. Mas era essencialmente fraco! Na graduação presenciei uma usuária dizendo que, quando lia Sidney Sheldon, era capaz de viajar por lugares que nunca (jamais!) conheceria. Era possível, através de seus livros, ser feliz no amor, coisa que ela não era na vida real. Descobri, nesse momento, que Sheldon e Coelho eram - sim! - muito parecidos... Descobri que os livros acontecem é dentro da gente. Dependem do que já vivemos, das expectativas que temos de nossos futuros. Páginas viradas têm mais sentido quando temos com a gente o verdadeiro sabor que nossas próprias vidas nos oferecem.

Não acredito que o mundo da literatura tenha perdido um grande autor. Sei que o povo perdeu um grande fazedor de estórias para passar o tempo... Ainda restam "Garcias Marquez" e "Saramagos" que fazem estórias para marcar o tempo. É diferente...

Mustafá!

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