segunda-feira, 25 de setembro de 2006

Classes do tempo...


Começou a primavera. Faz três dias, mas hoje de manhã, olhando o clima indecifrável pela janela do ônibus, eu estava pensando em estações do ano.
Quando era criança, achava que estações do ano eram decididas, por consenso, pelos adultos. Pensava que, quando todos estavam exaustos com o calor, mudava-se o tempo e trazia-se de volta os cobertores. Minha mãe tinha um cobertor de lã de carneiro que ninguém podia usar. Primeiro porque "pinicava" a gente, depois porque só era necessário quando fazia muito frio, mas muito frio mesmo... Um belo dia, não tão belo porque a enchente havia vitimado algumas pessoas, minha mãe doou o cobertor de lã de carneiro, que tinha sido da sua avó, para alguém, sem saber quem seria, sem saber se estava tão frio, nem se a pessoa queria sofrer de "pinicação". Foi a primeira vez que vi o inverno rigoroso ir embora...
Para mim existia só duas estações: aquela em que se podia ir ao clube e deixar a pele ir escurecendo aos poucos no sol e aquela em que tomar banho às cinco horas da tarde era um sacrifício imenso. Mas aí eu reparei, pela janela da casa da Vó Anita, a existência do ipê amarelo. Foi a primeira vez que a primavera fez poesia em minha vida...
Era Deus pintando de amarelo a praça da minha cidade. Era o vento, também designado por Ele, pondo a beleza no chão e cobrindo de tapete amarelo o passeio público.
Descobri, tempos mais tarde, que existia também outono. Era natureza começando tudo outra vez... Deixando-se cair para voltar bonita em outras épocas do ano...
Como Deus é organizado...
Mustafá!

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