terça-feira, 21 de março de 2006

O mendigo, não mais o Rei, está nu!


O mendigo está nu. Não, não é o Rei. Não se trata de nobreza ou realeza. Trata-se de pobreza. O mendigo está nu. Nu!!!
Não se trata de servo, escravo, baixo ou alto clero. Trata-se do João Ninguém, também conhecido como Fulano, Beltrano ou Ciclano. O mendigo está nu, para quem quiser vê-lo. Na calçada, pronto para atravessar a avenida movimentada. Quem o vê, sorri, dá gargalhada ou se cora de vergonha. Mas continua, com o fluxo de carros. O mendigo está nu, mas é preciso correr porque o tempo urge.
O que há de vergonha na ausência de pudores do mendigo? O que há de errado com a falta de roupas do sujeito?
Muitos são os que não percebem a "nudeza" do homem que está prestes a atravessar a avenida. A cor negra que lhe é característica na péle mistura-se com a sujeira e a poluição provocada pelos automóveis. Por um instante penso que ele está coberto de roupas sujas. Mas não. Seus órgãos genitais denunciam que ele está nu. O mendigo está nu! Não há fio mágico que o cubra. Não há hipocrisia que nele enxergue roupa sequer.
O mendigo está nu, mas coberto de nossas vergonhas. Não há vergonha maior do que a falta de respeito e de dignidade.
De que lhe valem as roupas se ele já não tem o que lhe cobrir o estômago? De que valem pedaços de panos, se não é preciso cobrir o rosto, pois se já está exposto, ali no sereno, no sol?
As roupas foram as últimas coisas que o mendigo da Av. Pedro II perdeu.
Mustafá!

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