
João Cabral de Melo Neto que me perdoe, mas eu não posso deixar de mencionar o seu poema num momento tão indelicado.
O grande poeta brasileiro que narrou a trajetória de Severino - um migrante que abandona o sertão rumo ao litoral, encontrando nesta longa viagem apenas a morte - não imaginaria que no Planalto Central do país há outro Severino, que diferentemente da personagem do poema, está se tornando o responsável de sua própria morte, menos severina do que merece, é claro! Mas a imagem de homem nordestino mandão cai por terra evidenciando mais um dos "300 picaretas com anel de doutor".
O ex-gerente administrativo do restaurante Fiorella, localizado na Câmara dos Deputados, afirmou nesta terça-feira à Polícia Federal que o empresário Sebastião Buani pagou propina ao presidente da Casa, deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), para manter a concessão do estabelecimento.
Do jeito que as coisas estão, convém que sentemos nas nossas salas de televisão esperando William, Fátima, ou quem quer que seja, ir anunciando um por um dos envolvidos nesse escândalo que "começou" com os Correios e deve acabar na nossa caixa de correspondência. Tenho medo que até o porteiro daqui do prédio esteja envolvido com esse escândalo, porque como as coisas estão, só faltará ele. Assim, quando não sobrar políticos, Severinos e outros tantos, veremos nossos nomes anunciados na TV como coniventes - porque é isso em parte o que somos - dessa falcatrua deslavada.
Podemos perder a nossa crença nas pessoas. Podemos perder a vontade de retornar as urnas e mais uma vez nos sentirmos enganados. E por que não falar em perder a esperança?
"Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina:
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,
a de querer arrancar
algum roçado de cinza".
iguais em tudo e na sina:
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,
a de querer arrancar
algum roçado de cinza".
Mas a terra se mostra cada vez mais infrutífera! Eu, envergonhado, retiro-me!
Mustafá!
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