"- Ela deve ter sido uma beleza de mulher, porque foi escolhida para se casar com um nobre (...), para dizer a verdade, um príncipe: o próprio filho do rei Hamor! O rei foi pessoalmente levar um generoso preço-de-noiva para Jacó, mas Simão e Levi não consideraram que fosse suficiente. Alegaram que a irmã havia sido raptada e violentada e que a honra da família fora aviltada. Fizeram tamanho alarido que o rei, curvando-se à grande paixão de seu filho pela filha de Lia, dobrou o preço-da-noiva. Ainda assim, meus tios nao se satisfizeram. Afirmavam que aquilo era parte de um ardil dos cananeus para Hamor se apoderar de tudo o que Jacó possuía. E então Simão e Levi tentataram desfazer o casamento, fazendo uma esigência que acharam que não seria aceita: a de que todos os homens da cidade fossem circuncidados, como os da tribo de Jacó haviam sido.
Agora vem a parte intrigante dessa história, e por causa disso às vezez tenho a impressão de que talvez não passe de uma lenda que as moças contam uma para outra. O príncipe aceitou a condição, deixou-se cortar! Ele, seu pai e todos os outros homens! Minhas primas dizem que isso é impossível, que nenhum homem é capaz de tanto amor assim. Na história, porém, o príncipe concordou. Ele e os outros homens da cidadde foram circuncidados.
(...) Duas noites depois, quando os homens ainda gemiam de dor, Simão e Levi entraram furtivamente na cidade e trucidaram o príncipe, o rei e todos os homens que encontraram dentro dos muros de Shechem. Roubaram também o gado e mulheres, e foi assim que Simão veio a ter uma esposa vinda de lá. Quando o filho deles descobriu a vilarina do pai, preferiu morrer e afogou-se.
- E o que foi feito da irmã? A que foi amada pelo príncipe?
- Isso é mistério. Acho que ela morreu de tristeza. Sarah fez uma canção dizendo que ela foi levada pela Rainha do Paraíso e transformada em uma estrela cadente.
- Alguém ainda se lembra do nome dela?
- Dinah. Gosto do som desse nome, não é lindo? Um dia, se eu tiver uma filha, vou chamá-la de Dinah".
(Trecho do livro A Tenda Vermelha, p. 371-372)
Fonte:
DIAMANT, Anita. A tenda vermelha. Rio de Janeiro: Sextante, 2001. 377p.
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