quarta-feira, 16 de agosto de 2006

Conversa singela


Em artigo recente no Jornal do Brasil (dia 26 de julho) o colunista Mauro Santayana emitiu sua opinião sobre profissões "singelas". Na verdade discutia sobre a profissão de jornalista que outrora não exigia de seus trabalhadores um diploma, bastando estes saberem articular gramaticalmente bem as palavras. O colunista afirma, manifestando sua opinião, que a liberdade de imprensa não pode estar restrita a quem freqüenta a universidade. O problema é que, papo vai papo vem, Santayana finaliza seu discurso dizendo: "a proliferação de cursos universitários, para ofícios singelos, como os de bibliotecários e secretárias, faz parte do grande mercado de ilusão dos tempos modernos..."
Acho que não preciso dizer que minha caixa de e-mails superloutou com mensagens de bibliotecários estéricos maldizendo essa infeliz frase do amigo supracitado. Mas vamos por partes:
- o cara está expressando sua opinião. Ele é colunista! Ele acha que ser bibliotecário é exercer uma profissão singela. Sua inocência é prova de que não é capaz de formar opinião;
- milhões de pessoas acreditam que advogados são mentirosos, engenheiros são arquitetos enrustidos, que arquitetos são decoradores camuflados, que secretárias são garotas de programa disfarçadas e por aí vai! São opiniões de quem provavelmente não conhece as especificidades, as dores e os prazeres de cada uma dessas profissões e não podem influenciar na escolha da carreira de ninguém;
- bons profissionais se fazem no dia-a-dia, no mercado de trabalho, nas tomadas de decisões e no bom cumprimento das tarefas a eles designadas e não sentados nas cadeiras das universidades, sob os auspícios do curso tal;
- ética é algo muito maior do que simplesmente dizer o que se acha que é correto;
- não podemos exercer uma profissão singela, uma vez que, e cada vez mais, o mercado vem a nossa procura para solucionarmos os grandes problemas que a informática prometeu solucionar e só agravou: a grande quantidade de documentos desorganizados e a proliferação da informação;
- nossa profissão será singela sempre que um bibliotecário não realizar seu trabalho da melhor forma possível, independente do que pensam e esperam de seu trabalho;
- profissão singela é escrever tudo o que vem a cabeça sem antes contabilizar os benefícios que um ofício vem conquistando para as pessoas através dos séculos.
Deixo uma mensagem singela aos bibliotecários magoados: não impunhem bandeiras. Usem seus braços para exercer eticamente a profissão que escolheram. Só nos sentimos menores quando olhamos as pessoas de baixo. Se o seu trabalho é desempenhado com responsabilidade, o sucesso será somente uma das consequências...
Uma pergunta singela ao Mauro: Quem é você?
Mustafá!

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