E da nota musical repetida fêz-se a tia: Mi-mi. Mas fez das duas notas juntas uma canção divertida, que espalha risos, que dói a barriga da gente de tanta estória maluca. Fêz-se a canção mais confusa de se cantar. Como se barítonos e sopranos se atropelassem em notas dissonantes e, no final, só pudesse dar: Mi-mi.
Tia das estórias longas, dos trocadilhos mais oportunos. Do leite em pó que se mistura com água só no estômago, com preguiça de sujar o copo. Com as "limpezas" a meia-noite. Do muscato chito. Das ombreiras perdidas com os grampos, os produtos de beleza e as anotações. Do "resumindo" sempre na ponta da língua, mas longe do final da notícia. Da tôca na cabeça, fingindo ser ladra de nossos sorrisos...
Mimi das velas de aniversário que soltavam faíscas; do estojo de madeira com balas de caramelo, do sítio distante e escuro; do arroz verde; do pão de queijo e da palha italiana.
Mimi de antigamente, quando ainda morava em BH, que chegava cansada, sempre com dor de cabeça, querendo dormir uns três dias, me fazendo pensar que a capital do estado era em outro mundo. Mimi do Vô Niquinho, cantando sentada na escada e levando uns "pitos" de vez em quando. Das agulhas do tricô que continuavam a trabalhar mesmo no escuro ou de olhos fechados.
Mimi de hoje que coloca as minhas roupas e sai por aí em dia de chuva e frio. Que chega afobada falando de três acontecimentos e não termina nenhum. Mimi responsável pelos mustafás diários. Ela sabe bem o que isso significa. Das brigas que não duram nem um minuto, porque a gente não sabe ficar sem falar um com o outro.
Tia Mimi, do 1202 do Edifício Mediterrâneo. Do tio Vicente e de um monte de estórias que não podem ser ditas aqui. Elas nos pertencem, somente. Estão guardadas no fundo da gaveta das coisas engraçadas, do lado da caixa da saudade.
Feliz aniversário!
Mustafá!
0 Comentários:
Postar um comentário