quinta-feira, 28 de abril de 2005

Alfarrábios

Chegou na biblioteca um amontoado de livros a que deram nome de doação. Estressei logo de cara porque fazer triagem é um pouco complicado pois, por serem livros antigos, rende-nos alguns espirros e um ardume na garganta. O problema é que eu gosto de livros né? Aí fica difícil não dar uma folheada e encontrar coisas interessantes... Esse meu encantamento por alfarrábios alheios é que me faz sumir entre a leitura empoeirada e espirrar de rir, ou de chorar, ou de surpresa, ou sei lá de quê!
Ao que eu encontrei dentro de um livro:
A gente se acostuma...
Eu sei que a gente se acostuma. A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltada porque está na hora. A gente se acostuma a abrir o jornal e ler sobre a guerra. A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone hoje eu não posso ir. A gente se acostuma a pagar por tudo que deseja e o de que necessita. A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A gente se acostuma à poluição. Ao choque que os olhos levam à luz natural. Acostuma-se a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta. A gente se acostuma a coisas de mais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. A gente se acostuma para poupar a vida. Eu sei. Mas não devia. (Marina Colasanti)

Não sei, mas sinto que o mundo das coisas prescente o que ocorre dentro da gente e nos dá sinais, transmite-nos mensagens... Talvez nós vejamos coisas onde elas não existam... Mas faz bem pensar que o mundo nos chega dando conselhos sem pedir nada em troca... Essa mensagem me chegou num recorte de jornal perdido dentro do livro. Só podia ser pra mim, ou pra você!

Mustafás empoeirados!


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