quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Sobre filmes, livros e terremotos que nos sacodem a vida


Só ontem assisti à adaptação do Ensaio sobre a cegueira. Já tinha lido o livro de Saramago e acho que a estória escrita me deixou mais perplexo e me fez refletir mais que o que foi para as telas. Engraçado pensar que só somos o que somos porque temos quem nos enxerga, quem nos avalia, quem nos julga. Assim, inertes nesse emaranhado de regras, princípios éticos, moral e bons costumes, enxergamos sempre no outro o certo e o errado, sem saber que o certo e o errado, se é que existem, escondem-se na escuridão da cegueira, dentro de gente mesmo... E é quando estamos sozinhos em nossa escuridão é que somos quem realmente somos...

Estou lendo o livro Caim, recém lançado por Saramago. No livro o autor reconta, à sua maneira atéia, a estória do rapaz que matou seu próprio irmão, seguindo a vontade de Deus. Atrelado às inúmeras críticas que o autor faz ao antigo testamento - até bem óbvias, diga-se de passagem - há a sua maneira ímpar de escrever e questionar sobre a existência de um deus e, principalmente, da existência de Deus tão mau a ponto de pedir a um pai que sacrifique seu filho.

Paralelo a isso, tenho evitado à assistir aos noticiários sobre o terremoto no Haiti. Não somos obrigados a ouvir aqueles gritos de terror e ver aquelas cenas do absurdo. Os olhares desolados, principalmente das crianças, ficam muito tempo em minha mente. A minha incapacidade de ser Zilda Arns e ir ao encontro dessas pessoas, faz com que eu fique, como os personagens de Saramago, cego diante de toda essa necessidade. Como o próprio Saramago, eu me questiono sobre a existência de um Coordenador do Mundo - que tudo pode, tudo vê e tudo sente - que permita tal acontecimento natural.

Que provações terão que passar os pobres haitianos para conseguir um lugar iluminado nos céus?

Mustafá!


(Na foto, a capa que mais me impressionou, seja pela força da imagem ou pela qualidade do trabalho de editoração).

0 Comentários: