terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Da cor, do amor...


Ouvi, do outro lado do passeio uma mãe dialogando com seu filho. Ambos negros... Ela gritava: "Você é macaco? É?!!!" e ele, meio que duvidando, respondia: "Não..." E ela insistia cada vez mais alto: "Então, você é macaco?! Então porque você se vira quando eles te gritam?!". E gritava de novo e de novo, não para que nós ouvissemos. Ao contrário: ela gritava porque parecia mais fácil, assim, para ela entender.

Continuei caminhando como se aquilo não me afetasse. Fiquei imaginando quanto esforço aquela mãe fazia para não voltar e não esfregar a boca dos colegas do filho nas palavras que diziam. Quantas vezes ela não teria ouvido tais insultos e ficado, como o filho, calada. Quantas vezes mais, mães e filhos negros deveriam responder aos insultos, calarem-se diante deles, revidarem, darem de ombros, chorarem, processarem essas infâmias... Eu caminhei calado.

Acho que me emocionei ao imaginar o que se passava na cabeça do menino: ele sem entender bem o porquê de o chamarem de macaco, sem entender o porquê da diferença, sem entender que seus colegas, de estrela na testa, é que não tinham cumprido a evolução da espécie.

Acho que deixei escapar uma lágrima, por todo o silêncio que existe no preconceito. Como se o nó que se formava na garganta da mãe fosse divido comigo. Me emocionei pelo fato da mãe saltar sua baixa auto-estima, e gritar para o filho direitos do amor.

A rua é de todos. Os passos são diferentes...

Mustafá!

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