quinta-feira, 15 de maio de 2008

Eu te perdôo...


Eu já sabia da minha dificuldade em pedir perdão. Velha conhecida. Companheira da presunção de estar sempre certo. Prima irmã do orgulho. Trágico parentesco. Conhecia também a minha resistência em perdoar as pessoas. Mágoa é nódoa para mim, demora demais para sair do meu coração. Nem o tempo cura alguns sentimentos ruins que me implantaram. Sou eu quem sofro mais com isso, eu sei e o meu organismo sabe também. E como sabe.
O que descobri essa semana é que, mesmo não tendo mágoa, mesmo não me lembrando do "mal", eu tenho dificuldade em dizer: "eu te perdôo". Eu consigo dizer "nem me lembrava mais disso", "esquenta não, vamos começar do zero", mas "eu te perdôo" não saía!
Uma ex aluna passou pra me pedir perdão. Eu assustei quando ela recontou o mal entendido que tivemos em sala de aula, lembrou-me das palavras que eu disse, da expressão de assombro que eu fiquei diante de todos naquilo que ela mesmo afirmou ser uma agressividade de sua parte.
Eu não me lembrava efetivamente. Algumas outras atitudes dela - na grande maioria do tempo mais graves do que de fato aconteceu - às vezes me vinham a cabeça, mas eu realmente tinha esquecido do que aconteceu.
Ela me explicou o porquê daquela atitude e a maneira como ficou depois do que aconteceu. Ela tinha muitos motivos para ter tido aquela atitude, mas nenhum era justificativa para o que tinha acontecido. O tempo passou, eu esqueci, ela não. Faltava o "eu te perdôo" que ela queria ouvir e eu não conseguia pronunciar.
Foi então que ela se virou e, na minha sala, viu um cartaz "Perdoar é libertar". Nessas alturas o maior preso era eu e quem menos entendia o porquê daquele cartaz ali naquele local também. Suei frio ou quente, também não me lembro. Consegui me libertar. Falei "eu te perdôo" como uma criança que emite os primeiros sons: deixei para outra pessoa qualquer superinterpretação que se quisesse fazer.
Ela chorou. Aquilo enfim tinha feito sentido pra ela. Só então fez sentido para mim. Ela tinha se libertado, sem perceber que me livrara também do cárcere.
Não sei se saberei usar essa chave para abrir outras portas. Sei que não estou fechado por completo. Por enquanto basta.
Mustafá!

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