sexta-feira, 18 de abril de 2008

Uma face da moeda


Durante toda a manhã de hoje a GloboNews exibiu imagens da delegacia onde o casal Nardoni prestaria depoimentos, talvez os decisivos. Exceto os 5 minutos de imagens que fizeram realmente sentido (as do casal chegando até a delegacia) o resto foi de transeuntes e curiosos, cinegrafistas e jornalistas disputando vaga nos telhados da vizinhança. Eu fiquei ali, curioso também esperando no que aquilo iria dar. Fato é que uma questão me veio a mente: o que faz com que a polícia, a imprensa e a sociedade elejam um caso como esse para ter repercussão nacional?

Diariamente crimes absurdos acontecem. Inúmeras Isabellas têm suas vidas tiradas brutalmente, seja por criminosos conhecidos (familiares) ou por desconhecidos (não quero também condenar ninguém previamente). Vidas inocentes são colocadas em risco ou mortas pelo valor de carros, jóias, dinheiro e até mesmo celulares. O que espanta é que a grande maioria dos casos que vão parar na televisão são de pessoas das classes média e alta. Pessoas que teriam seus casos resolvidos sem ajuda da mídia, inclusive.

No entanto, os familiares das inúmeras Isabellas do dia-a-dia expremem-se em delegacias, em filas de hospitais e até mesmo em cemitérios, a procura de uma justiça que não vai chegar, que é prerrogativa de poucos.

É bem provável que o casal Nardoni nem se tornasse assim reconhecido se morassem exprimidos em uma favela da capital paulista. Ana e Alexandre seriam mais dois na multidão de suspeitos que rondam a insegurança nossa diária. A Isabella seria mais uma pobre menina morta sem muitos esclarecimentos.

O caso é, sem dúvida, assustador. Mas o esquema que se desenvolve diante de casos assim também o é. Uma Isabella atirada do 6º andar de um prédio não nos redime de milhares de crianças indefesas mortas, estupradas, seqüestradas, vendidas, exploradas e humilhadas de sol a sol em nossas periferias.

Fico em frente à TV em busca da solução do caso da menina, visto que se tornou a nossa novela das oito (com flashes ao vivo, diga-se). Gostaria de ter paciência para esperar a solução de outros tantos que se espalham no mar de impunidade, desengano e esquecimento desse local que chamamos de país.

Mustafá!

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