Eu prefiro que os lírios continuem amarelos, que eles continuem no jardim, disputando o sol com as hortências e os passarinhos.
Eu prefiro que os travesseiros permaneçam na sala, com a televisão ligada nas novelas.
Eu prefiro a sopa ao cair da tarde e o chá com bolachas à noite.
Quero tudo na mais perfeita ordem, sem muito barulho e sem sujeira no cantinho dos cômodos.
Quero a bengala bem guardada no guarda-roupas, para eu pensar que ainda posso prosseguir com firmeza.
E o aparelho de audição na gaveta, para eu fingir ouvir sua voz, seu riso e suas críticas fugazes.
Quero amanhã acordar às onze e ir para a mesa reclamando preguiça e sono.
Quero, sobretudo hoje, que essa ausência que dói se transforme em saudade e que se aloje no canto mais terno do meu coração.
Quero seguir ouvindo o pio triste da coruja colorida, as estórias do Rosário e sobre o grande amor pelo Vô Niquinho.
Ana de Carvalho Brito / Ana Brito Negreiros / Dona Anita / Vó Nita
1914 - 2007
Mustafá!
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