terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Presente

Vó Lola fez aniversário ontem e eu não pude falar com ela. As chuvas e os trovões me impediram. Sorte minha e dela. Se isso ocorresse eu teria dito algumas palavras já conhecidas que não expressariam o que eu verdadeiramente gostaria de falar. Ela sabe que eu me viro melhor com as palavras escritas.

Ela sabe, assim como eu sei que ela lida melhor com os olhos.

Com seus olhos ela transmite paciência e calma, mesmo quando está nervosa com suas doenças imaginárias controladas por AS Infantil. Olhos que só perdoam.

Com seus olhos ela combina a destreza das mãos com o cuidado, para fazer o biscoito de polvilho na medida certa do sabor, mas na quantidade exata para muitas disputas. Olhos que aquecem.

Com seus olhos ela cruza as agulhas de tricô e tece casacos de filhos, netos e bisnetos. Lãs que armazenam carinho.

Com seus olhos sorrindo traz nos natais notas de dinheiro que não podem ser medidas pelo valor em real. Amor irreal.

Com seus olhos marejados, ela busca as lembranças do meu avô sobre o cavalo, com o peito estufado, o chapéu e o bigode. Olhos da saudade de ontem.

Com seus olhos ela vigia a família que cresce, apesar de todos os problemas, como se nada tivesse acontecido. São seus olhos que vigiam as crias para que elas não se apartem. Olhos de união.

São seus olhos, determinantes de sua existência, que fazem da nossa mais significante.

Mustafá!

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