terça-feira, 2 de maio de 2006

Malas de vó


Sempre digo que trago malas diferentes das que a gente conhece das viagens que faço. Malas que existem somente na minha imaginação. Já trouxe saudade, vontade de ficar, vontade de nunca mais voltar... Dessa vez trouxe uma caixa contendo coisas de avós.

Nessa caixa depositei biscoitos da Vó Lola e mãos quentes da Vó Anita. Carinhos para o corpo e para a alma. Não trouxe nada, além disso, dessa última estadia em Virgínia. Sei que isso é suficiente para encher muita coisa.

Biscoito da Vó Lola me lembra sempre as brigas com o Vó Zezé que não queria que a gente comesse tudo de uma só vez. Não entendia muito bem porque tinha que sobrar se nos sobrava fome... Biscoitos da Vó Lola me lembram brincadeiras que se estendiam na pracinha do hospital até altas horas e o corpo coçando de grama na hora do banho.

Mãos da Vó Anita lembram-me sempre mãos rijas que endureceram ao longo dos difíceis anos de doença do Vó Niquinho e um monte de problema para resolver... Mãos que sabem resolver problemas difíceis, mas que tecem lindos desenhos de linha fina... Mãos que cruzam meus cabelos e me lembram que já fui criança ali mesmo naquele sofá e que eu e as mãos temos envelhecido juntos.

Coloquei bem guardadas nessa caixa essas duas coisas. Não posso dividi-las com ninguém. Mesmo com quem já as têm. É diferente. Sabores adequam-se aos paladares de cada um.

Malas vieram praticamente vazias dessa última viagem. Mas vieram tranqüilas, como comer biscoitos e ser afagado por mãos carinhosas...
Mustafá!

1 Comentários:

Karina disse...

Tudo que vc escreve é lindo...talvez por ser escrito com o melhor que o coração tem.