Crianças têm medo. Eu tinha também.
Lembro-me como se fosse ainda hoje nós sentados - meus pais, meus irmãos e eu - em frente a minha casa, na beirada do portão sob a noite. Conversas jogadas na rua, com quem por ali passasse. Falava-se do tempo, que contribuía para estarmos ali sentados debaixo daquela lua comum de interior; falava-se da morte de alguém de longe e de perto; ria-se pouco a vontade; especulava-se pela vida alheia; estórias comuns das cidades pequenas. Mas se alguém perguntava por nós, os filhos, ali já de pijamas agarrados nas pernas dos pais, meu pai ia logo falando de um por um e quando chegava em mim, o mais novo, emendava: "esse eu peguei na enchorrada!", e me olhava com olhos de quem ri de mim e brinca comigo, misturando àquele desdém da minha entrada para a família o amor que tinha por mim.
Eu sofria muito por pensar que minhas origens estavam naquelas águas sujas que passam rápidas junto da calçada. Imaginava que tempestade havia me trazido. Calava-me e recusava-me perguntar mais sobre essa estória, com medo de meu pai resolver me contar, enfim, toda ela.
Mas se, de volta para dentro de casa, eu dormisse antes de ir para o meu quarto, meu pai me carregava até a cama e, acordando durante o trajeto, percebia seus braços de carinho e o amor que me faziam dormir mais tranquilo: aquele não poderia ser senão o meu pai. Entendia nesse momento o que ele queria dizer com aquele olhar de quem zomba e se diverte com a inocência do filho.
Era jeito de amar divertido. Era jeito de amar com poucas palavras como é o costume do meu pai. É o jeito de amar às vezes só corrijindo, para a gente ser boa gente quando crescesse...
Era o jeito de amar que ele sabe.É o jeito de amar que eu percebo.
Crianças têm medo, eu tenho também. Mas sua presença me encoraja.
Feliz dia dos pais...
Mustafá!
Lembro-me como se fosse ainda hoje nós sentados - meus pais, meus irmãos e eu - em frente a minha casa, na beirada do portão sob a noite. Conversas jogadas na rua, com quem por ali passasse. Falava-se do tempo, que contribuía para estarmos ali sentados debaixo daquela lua comum de interior; falava-se da morte de alguém de longe e de perto; ria-se pouco a vontade; especulava-se pela vida alheia; estórias comuns das cidades pequenas. Mas se alguém perguntava por nós, os filhos, ali já de pijamas agarrados nas pernas dos pais, meu pai ia logo falando de um por um e quando chegava em mim, o mais novo, emendava: "esse eu peguei na enchorrada!", e me olhava com olhos de quem ri de mim e brinca comigo, misturando àquele desdém da minha entrada para a família o amor que tinha por mim.
Eu sofria muito por pensar que minhas origens estavam naquelas águas sujas que passam rápidas junto da calçada. Imaginava que tempestade havia me trazido. Calava-me e recusava-me perguntar mais sobre essa estória, com medo de meu pai resolver me contar, enfim, toda ela.
Mas se, de volta para dentro de casa, eu dormisse antes de ir para o meu quarto, meu pai me carregava até a cama e, acordando durante o trajeto, percebia seus braços de carinho e o amor que me faziam dormir mais tranquilo: aquele não poderia ser senão o meu pai. Entendia nesse momento o que ele queria dizer com aquele olhar de quem zomba e se diverte com a inocência do filho.
Era jeito de amar divertido. Era jeito de amar com poucas palavras como é o costume do meu pai. É o jeito de amar às vezes só corrijindo, para a gente ser boa gente quando crescesse...
Era o jeito de amar que ele sabe.É o jeito de amar que eu percebo.
Crianças têm medo, eu tenho também. Mas sua presença me encoraja.
Feliz dia dos pais...
Mustafá!
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